A nossa história

Sobre

A Associação António “Rita” – Minas da Borralha (designada abreviadamente de “A.A.R – MB”) é um projeto cultural de perpetuação de valores materiais e imateriais do património mineiro, coligidos por António Fernandes de Sousa, com funções de “Analista Químico” nas Minas da Borralha (no período de 1950 a 1986). A Associação pretende dar a conhecer não só a identidade e singularidade de António Sousa, como também a identidade de uma comunidade mineira que marcou profundamente a região, se inscreveu e destacou numa das épocas mais importantes da indústria mineira nacional, com altas repercussões políticas, económicas e sociais dentro e além-fronteiras.

António Fernandes de Sousa revelou, desde muito cedo, um enorme interesse e dedicação pela preservação do património cultural e geomineiro. De personalidade forte e identidade marcada, tornou-se conhecido na década de 70 pelas suas posições e ações de conservação de diferentes vestígios (materiais e imateriais) decorrentes da sua atividade mineira, presenciada particularmente nas Minas da Borralha. Não obstante, do seu interesse e conhecimento pela restante atividade mineira nacional (do seu tempo), coligiu dos principais centros amostras minerais e registos com elevado valor (mineral, cultural e social).

Natural de S. Torcato, concelho de Guimarães, António Sousa nasceu a 20 junho de 1936 e foi viver para a aldeia da Borralha pelo ano de 1942. Como nesta existia uma outra criança de nome António, passou-se a distinguir por António da Rita, que era o nome da sua mãe (recebendo o outro António o distintivo de Costureira, já que a sua mãe tinha esse ofício). Foi desta forma que António Fernandes de Sousa se tornou popularmente conhecido como “António Rita”. Também esta peculiaridade se pretende valorizar com esta Associação, concretamente a de preservar um cognome ou distintivo nome materno. Desta forma, dá corpo a um dos seus princípios de salvaguarda dos costumes locais (que é, ao mesmo tempo, tão regional) de renomeação e valoração familiar.

António “Rita” era um homem de família, um técnico respeitado e um lutador pelo património. Começou a trabalhar desde cedo, primeiramente na reflorestação da serra da Cabreira, dos 11 aos 14 anos de idade. Frequentou o 4º ano de escolaridade na Borralha (em período noturno). Aos 15 anos iniciou trabalhos na oficina das Minas da Borralha, prosseguindo para a fundição, já com 16 anos, onde desempenhava funções de Analista Químico.
Passou a explorar a pensão das Minas da Borralha no período de 1971 a 1975, juntamente com a sua esposa, Glória Pereira. Fruto desta relação nasceram dez filhos, falecendo dois (um com meros meses de idade e outro aos 9 anos): primeiramente nasceu Luís Pereira de Sousa (1955); António Pereira Fernandes de Sousa (1958); Maria Pereira de Sousa (1959); Maria de Fátima Pereira de Sousa Santos (1960); José Pereira Fernandes (1965); Carlos Manuel Pereira de Sousa (1969); Isabel Maria Pereira de Sousa (1972) e, por último, Paulo Jorge Pereira de Sousa (em 1982).
António Sousa exerceu atividade nas Minas da Borralha no período compreendido entre 1950 e 1986 e faleceu a 04 de abril de 2016, com 79 anos.

Enquanto analista da empresa Minas da Borralha, o rigor do seu conhecimento técnico, ancorado na sua formação contínua e autodidata, atingiu um nível que lhe permitiu lecionar Química na Escola Profissional da Borralha, pelo que, juntamente com a sua capacidade de trabalho, garantiram-lhe a estima dos seus pares, um pouco por todo o país.

Conhecia detalhadamente diversas minas portuguesas, na medida em que, durante décadas, prestou serviços laboratoriais a muitos concessionários mineiros que recorriam frequentemente aos serviços do Laboratório da Fundição da Borralha. Por isso mesmo, analisou minério de todo o país, além da prática analítica aos complexos minérios da Borralha e seus produtos metalúrgicos, como era a liga de ferro-tungsténio. Pode dizer-se que a iniciativa metalúrgica da Borralha foi única em Portugal, enquanto instalação, desenvolvimento e produção, de que é testemunha António Sousa. Através deste, muitas amostras terão sido analisadas e expedidas para as diferentes partes do mundo que requisitavam aquele produto metalúrgico, que à data representava o mais alto valor estratégico de uma nação.
Tanto era homem de laboratório, de bata, conhecedor das fórmulas, dos reagentes, dos teores, como era investigador do terreno, gostando de fazer observações e pesquisa em campo. Das viagens que empreendeu às várias concessões mineiras, recolhia sempre amostras, comprava livros, captava imagens. E em todo o lado era bem recebido, escutado com atenção, nunca se esquecendo de retribuir o acolhimento, correspondendo com fotos de grupo, emolduradas por si, enriquecidas com fragmentos de minério, resultando numa marca expressiva do seu espírito aventureiro, descobridor e generoso.
Em suma, António “Rita” distinguiu-se como um cidadão defensor intransigente da cultura, em particular dos valores éticos que sempre estiveram associados à sua atividade de colecionador minucioso e informado, tendo recolhido um relevante acervo mineral e documental das mais importantes explorações mineiras do país.
De caracter persistente, inconformado com as sucessivas delapidações do património técnico, industrial, documental e imaterial relacionado com a atividade mineira, estava sempre disposto a “cortar a direito” com voz assertiva, em defesa da verdade mineira.
Humanamente, era um espírito altruísta, imbuído de um sentido de missão, procurando deixar sementes para o futuro. Seguindo o modelo de trabalhador competente, conjugando a coerência do pensamento justo com uma prática eficiente, marcavam-no tanto uma visão crítica, como o raro dom de reconhecer o valor dos outros, fossem eles chefias da administração das minas, do corpo técnico dos mais qualificados ou dos serviçais mais humildes e desembaraçados.

A conceção desta Associação visa dar continuidade ao trabalho de António “Rita”, no que respeita à preservação/valorização/divulgação do património cultural e geomineiro, dando-lhe visibilidade e tornando-a acessível ao público em geral. Pretende ainda que este tenha a oportunidade de conhecer os mais altos valores culturais e identitários do povo de Montalegre (Trás-os-Montes) no que concerne à sua atividade mineira. Terá como fiel propósito, perpetuando o espírito de investigador de António Rita, promover o conhecimento científico, técnico, da química experimental, da mineralogia, aos recursos minerais, do território geológico regional e nacional, por forma a despertar e desenvolver sentimentos de apreço e de proteção do património mineral e mineiro. Destacando sempre a importância do Couto Mineiro da Borralha no contexto industrial e mineiro nacional, muito especialmente a sua fundição, única no país, capaz de transformar minérios de volfrâmio (ou tungsténio), volframite e scheelite, na liga ferro-tungsténio, numa iniciativa metalúrgica singular a estes minérios, em Portugal.

A criação desta Associação é a forma encontrada pelos herdeiros de António Fernandes de Sousa e a técnica Liliana Gonçalo (Mestre em Ordenamento e Valorização de Recursos Geológicos), natural de Montalegre, que estabeleceu uma relação particular com este colecionador e a partir daí desenvolveu trabalhos de investigação com a finalidade de conhecer/valorizar/divulgar o património geomineiro do concelho de Montalegre.

Pelo exposto, entende-se que esta Associação promova a comunicação com diferentes públicos e desperte o seu interesse numa cultura mineira rica, privilegiando a conservação do seu património mineralógico e metalúrgico, regional e nacional.

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